segunda-feira, novembro 27, 2006
posted by XAyiDe at 7:21 da tarde
Raispartam as conversas inócuas cheias de significado.Raisparta o sol que chega demasiado depressa. Raisparta o fumo, raisparta o barulho, raispartam os telemóveis, raisparta o cansaço, raisparto eu e não volto mais.
Por hoje.
 
quinta-feira, novembro 23, 2006
posted by XAyiDe at 5:33 da tarde
Com Mariquita, quando lhe veio a idade crítica, quis a de Mariquita fazer o mesmo que a de Carmencita, e quando a mãe a viu pálida e olheirenta, trouxe-lhe um ramo de rosas vermelhas. Mas Mariquita era muito mais descarada que Carmencita. Pegou nas flores, abriu a janela, deitou-as fora e pôs-se a menstruar.

Idem
 
posted by XAyiDe at 5:11 da tarde
Carmencita era muito dócil(...)A mãe de Carmencita olhava dia e noite por Carmencita, fechando-a numa vigilância de muralha erigida contra os engodos do mundo. Quando Carmencita fez doze anos, a mãe de Carmencita ficou preocupadíssima. Pensou: "quando a minha filha menstruar, adeus candura doirada". Mas conseguiu resolver o problema. Quando viu Carmencita ficar pálida pela primeira vez, atirou-se para a rua como uma doida e dentro em pouco voltava com um grande ramo de flores vermelhas. "Toma minha filha,toma, começas agora a ser mulher".E Carmencita, enganada com aquelas flores vermelhas,esqueceu-se de menstruar.
(...)
Carmencita fez quarenta anos. (...) A esta idade, veio um mês em que Carmencita não teve olheiras, e nesse mês a mãe trouxe-lhe um ramo de flores brancas. "Toma, minha filha, é o último ramo que te ofereço, já deixaste de ser mulher".Carmencita sublevou-se. "Mas, minha mãe, não cheguei a aperceber-me do que fui".Ao que a mãe respondeu: "pior para ti, minha filha". Aquele ramo Branco,já murcho, já sem folhas, amarrotado, hirto, foi tudo o que puseram no ataúde de Carmencita."

Buñuel in Os poemas de Buñuel
 
segunda-feira, novembro 20, 2006
posted by XAyiDe at 3:00 da manhã
Parece-me sempre mais fácil escolher-te (oh tu, figura abstracta que me sorris cinicamente do alto de uma lupa de aumento na qual habita um hóspede que é um fungo verde e que nunca desce para jantar e que já convidei muitas vezes e que já desisti era só o que me faltava ter que conviver com fungos verdes anti-sociais). Estás aí (tu e esse mal-educado fungo que nunca me dá os bons-dias quando nos cruzamos na escada entre o segundo e o terceiro piso que tem um degrau partido e no qual eu tropeço sempre e tu não o fungo pensas que tropeço por estar atrapalhada pela tua presença e não percebes que eu tremo porque não gosto de baratas) e olhas-me interrogativo, sempre à espera que te conte alguma coisa inusitada e interessante e irreal.
 
posted by XAyiDe at 1:36 da manhã
Quem não gostaria de poder partilhar segundos passados e futuros através de cruzamentos de realidades (de)mentais? Todos realizamos curtas todos os dias.Todos queremos que alguém as veja e perceba a forma distante com que as inserimos. Todos queremos ser diferentes e iguais ao mesmo tempo. Todos queremos ser interessantes e desinteressados.Todos queremos não ser não pertencer e dizê-lo muito alto.Todos queremos ser cientistas dos sonhos e entrar neles de vez em quando. Todos detestamos acordar.Sozinhos.
 
domingo, novembro 12, 2006
posted by XAyiDe at 7:02 da tarde
Neste espaço semi-público e semi-privado as palavras nem sempre são o que significam.
 
quinta-feira, novembro 09, 2006
posted by XAyiDe at 3:55 da tarde
Arrasto-me tarde dentro. Um sorriso cúmplice de quem mora ao lado, uma piscadela de olho em retribuição. É estranho como o corpo dança,se estica, se molda, aguenta. Horas que são a dobrar quando o sono é afastado com correntes, que rangem freneticamente e se libertam numa explosão horária de um despertador-papão.
São apenas momentos: às vezes prolongam-se, às vezes não. As perguntas (ainda)não surgiram, o sono (ainda) está lá fora.
 
terça-feira, novembro 07, 2006
posted by XAyiDe at 11:56 da tarde
"Instrucciones para llorar. Dejando de lado los motivos, atengámonos a la manera correcta de llorar, entendiendo por esto un llanto que no ingrese en el escándalo, ni que insulte a la sonrisa con su paralela y torpe semejanza. El llanto medio u ordinario consiste en una contracción general del rostro y un sonido espasmódico acompañado de lágrimas y mocos, estos últimos al final, pues el llanto se acaba en el momento en que uno se suena enérgicamente. Para llorar, dirija la imaginación hacia usted mismo, y si esto le resulta imposible por haber contraído el hábito de creer en el mundo exterior, piense en un pato cubierto de hormigas o en esos golfos del estrecho de Magallanes en los que no entra nadie, nunca. Llegado el llanto, se tapará con decoro el rostro usando ambas manos con la palma hacia adentro. Los niños llorarán con la manga del saco contra la cara, y de preferencia en un rincón del cuarto. Duración media del llanto, tres minutos."

Julio Cortázar, Historias de cronopios y de famas
 
posted by XAyiDe at 11:47 da tarde
Pontos.Nunca finais, sempre interrogativos. Somam, seguem, perdem-se, subtraem, regressam.Pontos que se juntam para coser palavras, pontos que se afastam e seguem o paralelo das linhas do caminho tropeçando noutros pontos de vista.
Pontos? Estão prontos. Às vezes à melhor de três, como se de um suspiro se tratasse. Às vezes são dois.E não se calam. Às vezes estão apenas por ali, a pontuar. Ou a apanhar os outros pontos que se esqueceram de pontuar pelo caminho.
Ponto
Final
Parágrafo
 
posted by XAyiDe at 11:17 da tarde
As paredes estavam sufocadas em papel dos anos setenta. Era uma sala oval,utilizada algumas vezes para festas em que os convivas fazem quilómetros entre a mesa dos acepipes e os sofás que estão pejados de olhares perdidos. O chão, de cortiça, tinha marcas de saltos de várias gerações e ondulava ao sabor e ao ritmo dos passos de outrora. Agora, o ritmo era marcado pelas moscas, que,cegas, batiam incansavelmente nos vidros a tentar fugir de um deserto de sabores que apenas elas (e as pessoas) conseguem apreciar. O pó espalhou-se por cada milímetro quadrado e o cotão brotava dos cantos como qualquer erva daninha doméstica que só necessita de um milímetro quadrado para crescer. Esta podia ser uma qualquer sala fechada a qualquer momento nas nossas vidas.
 
posted by XAyiDe at 11:08 da tarde
Este é um post que não tem fim. Apaga-se mil vezes, faz-se de nada, significa zero. Doi-me a garganta e a cabeça. Há tantas palavras que ficaram presas na tosse seca e não passam de uma irritação nervosa na ponta dos dedos! O tempo aparece espartilhado com rendas góticas de uma melancolia incompreensível. 24 horas que se resumem a pequenas coisas, pequenas palavras, pequenas questões.Tusso.Mas as palavras continuam presas.
Acho que tenho que fazer um horário da minha vida...Ando a dedicar-lhe horas a menos...
 
segunda-feira, novembro 06, 2006
posted by XAyiDe at 3:16 da tarde
Não há encosto que valha a quem não quer encostar-se.Não há rodas que não rodem em circulo, em 50 cm redondos de chão. Desta cadeira de pau, com verniz recente e flores escondidas vê-se um soalho que range com tantos pés de pau que tentam dançar. madeiras novas, velhas, inchadas, imitações, plásticos pomposos, frio inoxidável.Desta cadeira que vejo eu? As costas de todas as outras.