quinta-feira, agosto 17, 2006
posted by XAyiDe at 12:08 da manhã
Recebes a notícia da minha morte embrulhada em papel pardo, do chique. Estranhas a mórbida missiva que alguém fez o favor de deixar entalada entre o tapete e os dentes do cão, que aceita naturalmente que o carteiro passe duas vezes no mesmo dia,ainda que seja feriado.
A primeira carta ainda ali está, poisada em cima da mesinha do telefone. Não consegui ler na íntegra, porque uma vez mais o cão chegou antes de mim. Apenas percebi que não entendias porque não havias de poder dormir cem anos e acordar como se nada fosse.
Agarro na carta e nos dentes do canídeo que, desconfiado, se põe a rosnar.

Deixo-te de vez. E vou de cor-de-rosa ao teu funeral.
 
segunda-feira, agosto 14, 2006
posted by XAyiDe at 1:04 da manhã
Estou a esboroar-me, qual broa que alguém deixou, por esquecimento, na banca da cozinha e não mais se lembrou de deitar fora. É estranho como há vazios na matéria. É como se eu fosse um queijo suíço e filosofasse sobre isso instalado desconfortavelmente numa das prateleiras do frigorífico. A diferença é que nem a broa escolheu perder-se em migalhas, nem o queijo sente falta do que nunca teve.
 
posted by XAyiDe at 12:49 da manhã
O terror de quem se deita ciente de que o subconsciente tem que verbalizar o que à mente não chega até que anoiteça. A ansiedade das respostas dadas sem perguntas verbalizadas, mas em contexto inquisidor. Lágrimas que são vertidas pela impotência de não saber que linhas traça a mente…Mas culpada à partida de um mal que sendo id, não é ego.
Ouve, mas não tentes compreender…não traces trilhos nos desvarios que me afloram aos lábios entre respirações profundas…Sou de dia, a mesma que de madrugada. Nada do que não disse é vampírico e visceral. Nada do que digo pode fazer sentido, pois é uma personagem que não conheço.
Gostava que compreendesses que eu continuo sem ter ligações a essa personagem que exigiste que te fosse apresentada no meio de um dos meus sonos profundos. Gostava que respeitasses o contrato de ficcionalidade e que não cobrasses suspiros por coisa alheia.

Porque afinal, os sonhos não são o que significam. E eu sou apenas vítima de querer o um para um. É a maneira mais justa de provares que me amas. No matter what.
 
posted by XAyiDe at 12:33 da manhã
Não há maneira de desviar o rumo das lágrimas que trazem a névoa do alívio egoísta e que tiram quilos de amargurácida que nos corroem as entranhas. Não há espelho que resista a uma mise-en-scene, seja ela fraca, ou não. Somos reflectidamente ridículos e irreflectidamente parvos. Somos KleeneX apanhados na viagem da mão ao nariz, fungando repetida e estoicamente. Somos advérbios com mau modo, com muito mau modo...