E, de repente, alimento-me de silêncios. As lágrimas secaram, já tenho mais ar nos pulmões, bocejo a cada 3 minutos. Neste momento, vivo rodeada de pílulas azuis verdes e cinzentas, num denso nevoeiro de uma fábula na qual sou a protagonista adormecida há mil anos. Estranho como o caos se instala de mansinho e nos deixa tontos, numa espiral de pânico. Susto, aceitação, paciência. Tenho medo de nunca mais me encontrar neste universo esquisito. A minha vida passou de mil à hora para a apatia total. Mas não estou triste, nem me sinto sozinha.
“Recomeça...Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres
,Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só a metade
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado
O logro da aventura
És Homem, não te esqueças!
Só é a tua loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.”
Miguel Torga